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domingo, 19 de junho de 2016

RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS - FORMAÇÃO PARA TODA A EQUIPE COM A SOCIÓLOGA JOYCE RODRIGUES

EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS SEMPRE!



Em 31 de Maio nossa JEIF iniciou com a Equipe Gestora apresentando a formadora Joyce Rodrigues, que veio enriquecer o nosso PEA com os seus conhecimentos sobre as questões étnico- raciais: história e cultura africana e afro-brasileira.

Joyce apresentou- se e explicou que o seu objetivo era o de falar sobre racismo, preconceito social e estereótipos e, além disso, pensar junto à equipe, práticas de ensino voltadas a temática. Assim, realizou uma dinâmica a partir da exibição de fotos de negros com placas, e nestas, frases racistas/ discriminatórias que comumente escutam. Os professores foram lendo os slides, e alguns comentaram os seus significados, partindo para uma reflexão sobre o racismo no Brasil. Joyce falou sobre as formas de racismo que existem, e que cada frase apresentada se dá de uma determinada maneira/situação e legitimam o preconceito. Ela explicitou que quando os negros ouvem frases como "os próprios negros são racistas entre ele", acontece um processo de aceitação desse preconceito, até que o achem comum. Porém, quando olha- se para os espaços percebe- se a segregação, pois a cultura do nosso país é ainda racista, patriarcal e heterossexual o que faz com que as pessoas incorporem o que lhes é imposto. Naturalizamos, segundo uma cultura, ideias machistas, como pensar que o homem não precisa estar dentro de casa quando o filho nasce, e acreditar que é dever da mulher os cuidados com ele. Para ela, pensar a ideia do racismo é o mesmo. É importante que o negro se empodere, que comece a se enxergar e a lutar pelos seis direitos, enfatizou Joyce. 

Neste momento a professora Lourdes perguntou à formadora se ela acredita que a segregação é legitimadora do ideal meritocrático. Joyce esclareceu a todos que sim, acrescentando ainda que a escravidão foi um sistema que desumanizou os sujeitos negros, desapropriou-os devido à coisificação do corpo e que terminada a escravidão, foram criaram outras estratégias para manter o regime de servidão e assim não se ofereciam estudos, a eles ficavam reservados os piores trabalhos e diversas proibições. Ela afirmou ainda, que as pessoas se sentem incomodadas quando escutam dizer que no Brasil não há racismo, mas também não discutem, pois têm medo dos conflitos inerentes a tais situações, por isso, muitas vezes somos vistos como passivos. 

A formadora retomou as imagens e explicou que se trata de uma campanha desenvolvida por alunos de uma universidade e o objetivo é o de evidenciar o racismo que se perpetua dia-a-dia, de maneira lúdica. E acrescentou também, que as fotografias são uma possibilidade de trabalho aos professores, que podem trazer falas dos alunos para a atividade. 

Em seguida, Joyce apresentou alguns slides, o primeiro deles tratava sobre o racismo estrutural, que é o reconhecimento de que a pobreza atinge preferencialmente os negros, como decorrência, entre outros fatores, do racismo da sociedade brasileira e da omissão do poder público. 

O segundo slide apresentava a questão do mito da democracia racial, que é a negação do racismo, que durante décadas orientou o discurso oficial do brasileiro e serviu apenas para aprofundar ainda mais as dificuldades e impediu que o Estado e a sociedade atuassem de forma a enfrentar o problema. Joyce contou que já os primeiros estudos dos sociólogos no Brasil, mostraram que o país é racista, que aqui há quase que uma separação de castas, como acontece na Índia. Assim, a lei 10.639/03 é o resultado de políticas reparatórias. 

Assim, a formadora apresentou um slide sobre a questão dos estereótipos, e explicou os mesmos podem ser imagens, palavras, gestos inventados e/ou preconcebidos de determinadas pessoas, lugares, objetos com teor negativo e pejorativo. Em seguida, exemplificando tal situação, desenvolveu a leitura de um trecho de Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, 1852, e mostrou que a personagem Vidinha, segundo a história, era apenas uma mulatinha com quem não se podia casar, mas que podia ser “usada”, ou seja, era apropriação do corpo da mulher negra como coisa. Outro exemplo apresentado foi à imagem de uma propaganda da cerveja “Devassa” de 2014. 

Abordou também algumas imagens utilizadas em livros didáticos, quando apresentam informações sobre a escravidão e retratam negros e brancos, evidenciando que são maneiras bem diferentes. Os negros, por exemplo, não apresentam marcas de identidade. Os professores observaram as imagens e explicitaram que quando são olhadas de maneira estanque continuamos reproduzindo o discurso de que os negros eram pacíficos, que não lutaram contra a escravidão, e até mesmo a infantilização das pessoas, nas imagens. 

A partir de então, Joyce falou sobre o que é o preconceito racial explicando que é uma atitude, uma indisposição afetiva, imaginária, ligada a estereótipos, que acaba se transformando em opinião, crença. É o passo para a discriminação racial que é a ação, atitude ou manifestação contra uma pessoa ou um grupo de pessoas em razão da sua cor ou raça. Assim, a formadora nos apresentou dados sobre a desigualdade social e racial no Brasil, e dá exemplos de jovens que morreram sem motivos, vitimas da discriminação. Com a análise do índice de vitimização, percebeu-se que os negros são as maiores vítimas de violência e morte: 79,9% a mais que os jovens brancos. Segundo ela, no IPEA e Rede Nós São Paulo encontramos dados que diferenciam o tratamento de saúde entre negros e brancos. Com estudos de casos que relatam as experiências de mulheres vítimas do sistema de saúde. 

Neste sentido, Joyce apresentou alguns dados sobre a desigualdade social e racial no brasil, com relação a violência e explicou que eles estão ligados a três fatores: 

1) A crescente privatização dos aparelhos de segurança

2) A naturalização e a aceitação social da violência que opera em vários níveis e mediante diversos mecanismos 

3) A culpabilização da vitima justificando a violência dirigida, principalmente, a setores subalternos ou particularmente vulneráveis que demandam proteção específica como mulheres, crianças e adolescentes, idosos, negros, etc. 

Joyce também comentou sobre a televisão brasileira, onde 90% das protagonistas são brancas. E que não há discussões sobre branquitude, pois este é um ato necessário, numa sociedade onde o branco carrega suas marcas, numa sociedade racista e machista, e que o comportamento que o sujeito tem, está dentro de uma lógica de tradição. E que o padrão de beleza negra está longe de ser o valorizado pela TV. Houve também abordagem e reflexão de vários outros assuntos como o sistema de ações afirmativas, dívida pública brasileira, estereótipos de beleza feminina, inserção do negro no mercado de trabalho, questões sociais e raciais e todas as questões colocadas pelos professores foram respondidas pela formadora Joyce Rodrigues.









Professoras: Aline e Vania




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